sábado, 5 de maio de 2012

Luvas

Adoçei os sentimentos de maneira sutil Procurei em vão contar as gotas desse sabor com especial cuidado Porém, não há medida Toda a dita sabedoria não serviria Talvez precise de luvas, (me recomendaram) para tocar, para ser sincero, para amar a vida. Esse par de tecido que parece dar outra imagem e sensibilidade [ferramenta estética para ludibriar as ocasionais realidades... talvez um momento de hedonismo apaixonado, armado de luvas...] Sei dos perigos, do viver intenso, do gozo rejubilado da liberdade Inocências tipicamente jovens e por isso digo, sou jovem?! abri a gaveta, vesti as luvas .. de tão apertadas não pude sequer dobrar os dedos Proteção para mentiras amargas, amores mal dados Sinto, não posso tê-los.

sábado, 3 de março de 2012

Um ser

Nunca foi bom em letras,
muito menos em aritmética
Nem melhor no amor do que no jogo que já acabou

(No romper da aurora, o coração em pedaços dói no primeiro passo após a descida)

Em romances, idas e vindas, sentimentos de dor, sempre trágico, além do que devia lhe aparentar

Indiscreto, inculto, intelecto mediano
Talvez mais "um rapaz 'latin lover' americano"

a preguiça, a apatia, monotonia de viver
desejos parecia não os ter
além daqueles já encarnados na boemia

de tudo aquilo de tão belo que o cercava,
os momentos de orgulho e prestígio, parecia nada aproveitar

o olhar evasivo de tão ébrio
lhe dava mais lucidez na análise corrompida de si

fracasso, tão novo, já fadado

ser um homem cercado de exemplos morais, de preceitos sociais
lhe deu mais incertezas do que caminhos virtuosos

assim justifica-se o pobre mancebo

saiba, ninguém vai o ouvir, o ler, o ver
talvez entender!

o melhor a fazer é .. estar vivo, ainda tem, mas ..

reencanar, quem sabe um dia,
peço-te, não queira saber mais quem é o ser.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Prosa

gostaria eu te cantar esta prosa
não sei qual seria o ritmo
talvez fosse na levada de um samba de Cartola

talvez este aforismo se deva pela minha alegria de saber
que existem mil sambas e sentimentos assim como os meus
desencontrados, resguardados pelos nobres vagabundos de rua.

a música, a sugestão ..

está tudo pairado no ar
esperando o momento, o toque certo da nota que sai do silêncio musicado
perdido no espaço, esperando a lógica mais (in)exata que seu autor consegue lhe dar

não tem ordem de primeiro ou último
chegou a hora, ficou no ponto, pode voar

nesse vôo sutil, mil paradas nos corações
dos que vêm a se identificar com as palavras e os sons e assim vai ..que este planar bonito não se cansa, segue sem cessar.

domingo, 30 de outubro de 2011

Cordão Umbilical

[Tempos Imemoriais estes, enquanto eu me alimentava de você, e tu, tão nobremente cumpria suas obrigações com o tempo, que tudo leva, constrói e transforma.. eramos tão felizes]

¹Sabe, hoje é senso comum que o tempo não nos pertence .. é uma afirmação inevitável nestes nossos tempos tão modernos.
¹Ao mesmo tempo, é tão difícil lidar com essa noção de que tudo já está extrapolando o tempo de ser, como por exemplo, agora mesmo, enquanto redijo estas mal acabadas frases para ti, acabei de perder a oportunidade de fazer algo que deveria estar previsto em algum postulado do tempo e da vida ..

²Pois ele já fugiu do controle (o tempo), as obrigações promulgadas a mim no tempo já estão atrasadas e eu nem mesmo sei que rumo tomar. Só vou seguindo a maré ...

[Lembro-me com uma falsa saudade do tempo em que eramos um só, eu e Ela (mamãe natureza); as horas eram determinadas, mas por nós]
[Viviamos numa paradoxal relação de dependência autônoma, eramos razão e viver, cuidar e crescer, plantar e colher]

[Se faz parca, mas real a lembrança sobre o dia(?) em que cortaram o cordão umbilical, nosso canal mais sagrado]
[Desde então, fiquei refém de algum mecanismo maior que eu, que por sua vez parece ser regido por um fluxo pré-determinado, mas artificial, falso.]
[Vivo hoje sem referêncial, não sei mesmo nem a hora de comer, muito menos sei plantar, sem você por perto]

¹Talvez estejamos realmente perdidos, sem esperanças e ao mesmo tempo loucos pela volta de um tempo imemorial - li sobre isto em algum lugar - mas, como por loucura, vamos em frente sem saber se queremos voltar.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Aparente

Sua beleza me diz muitas coisas
Uma mirada reflete mil versões sobre você
Cores, perfumes, sensações ..

No entanto, sei que todo o imaginado
não passa de um verso de pouca prosa

A imagem permanecerá se eu nem mesmo uma palavra trocar
Ela será a lembrança de uma idealização

Aparente
Eu mesmo serei para você que me viu talvez de relance,
algo proeminente, para mim (satisfazendo todo o meu ego)

aparências aparte:
Um belo terno pode estar tanto no Banco Central como na Cracolândia.

A arte de ser um bom enganador pode virar verdade para o autor da artimanha,
assim como a ilusão de ser verdadeiro pode sucumbir na primeira mentira.

É idéia, ideal, idílico, idiota. Tanto faz.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Quixotada I

" Também há de carecer meu livro de sonetos no início, ao menos de sonetos cujos autores sejam duques, marqueses, condes, bispos, damas ou poetas celebérrimos; embora, se eu os pedisse a dois ou três amigos do ofício, eu sei que mos dariam, e tais, que não lhes igualariam os daqueles que têm mais nome em nossa Espanha. Enfim, senhor e amigo meu - prossegui - , eu determino que o senhor D. Quixote permaneça sepultado em seus arquivos na Mancha, até que o céu depare quem o adorne de tantas coisas quantas lhe faltam, porque eu me acho incapaz de remediá-las, por minha insuficiência e poucas letras, e porque naturalmente sou acomodado e preguiçoso para andar buscando autores que digam o que eu sei dizer perfeitamente sem eles. Disso nasce a suspensão e absorção, amigo, em que me achastes, sendo causa bastante para pôr-me nela a que de mim ouvistes."

Extraído do Prólogo de "O Engenhosos Fidalgo Dom Quixote da Mancha" de Miguel de Cervantes.

sábado, 2 de julho de 2011

Lamento Sertanejo

TOM TOM TOM
TEM TEM TEM
TUM TUM TEM

FIU FIU FIU FIIIIIU

Salve Dominguinhos...

Por ser de lá
Do sertão, lá do cerrado
Lá do interior do mato
Da caatinga do roçado.
Eu quase não saio
Eu quase não tenho amigos
Eu quase que não consigo
Ficar na cidade sem viver contrariado.

Por ser de lá
Na certa por isso mesmo
Não gosto de cama mole
Não sei comer sem torresmo.
Eu quase não falo
Eu quase não sei de nada
Sou como rês desgarrada
Nessa multidão boiada caminhando a esmo.